Os Galos em Londres...

O nosso obrigado ao Icep, ao Thorsten que tão bem nos recebeu, e aos nossos colegas portugueses que partilharam experiências connosco.




PÚBLICO - EDIÇÃO IMPRESSA - CULTURA

Director: José Manuel Fernandes
Directores-adjuntos: Nuno Pacheco e Manuel Carvalho
POL nº 6087 | Domingo, 26 de Novembro de 2006

Design português em Londres Vá para dentro lá fora
Susana Moreira Marques, londres

Designers portugueses estiveram em Londres para participar numa promoção de design nacional. Não só se apresentaram aos ingleses, como uns aos outros. "É ridículo ter que vir
a Londres para nos conhecermos, mas é verdade"

Tudo no quadro de duas designers portuguesas a conversar sugere conforto. Não só porque estão afundadas em poltronas, mas pela familiaridade e fluidez com que falam uma com a outra. Dir-se-ia que se conhecem desde sempre. Dir-se-ia até que com certeza trabalham juntas. Interrompendo a conversa, descobre-se que não trabalham juntas e que não se conhecem desde sempre. Na verdade, Ana Mestre, da SUS Design, e Celina Capelo, da Simple Forms Design, mal se conhecem. E talvez seja isso que nos faz reparar nestas duas figuras inclinadas uma para a outra: neste momento, descobrem que têm muito em comum.
E nada disto seria surpreendente caso se passasse em Portugal.
Londres, Oxford street. Ergue-se - clássico e com classe - o edifício dos armazéns Selfridges. No quarto andar, fica a secção de design, Greenwich Village.
São quatro e meia da tarde de quinta-feira e a festa de apresentação da Promoção de Design Português - a decorrer em Londres, em quatro importantes pontos de venda - só começa daí a duas horas.
Podemo-nos perder na secção de design do Selfridges, mas é fácil descobrir o espaço reservado ao design português até 30 de Novembro. Não porque esteja particularmente bem identificado, mas porque um grupo de pessoas se concentra em redor.
E este é também um quadro bonito: os designers portugueses juntos, a partilhar a excitação e o nervosismo, o receio e as queixas, as esperanças e os alívios. E talvez não fosse digno de nota caso acontecesse em Portugal.
Vá para dentro lá fora - até se pode brincar com o slogan do ICEP, o promotor desta iniciativa em Londres.
A razão para tantos dos designers seleccionados, para o Selfridges ou para as outras três lojas - Viaduct, Rabih Hague e Thorsten Van Elten -, apanharem um avião para Londres a tempo da festa, é aquilo que se espera: promoverem o seu trabalho e tentarem criar relações de trabalho com parceiros no Reino Unido.
Mas há razões que só se descobrem à posteriori, já o avião tinha aterrado há muito: todos ganham em fazê-lo juntos.

Está tudo por fazer
A festa começou. De volta às poltronas, Celina Capelo sorri para Ana Mestre: "É ridículo vir a Londres para nos conhecermos, mas é verdade."
Com intervalo de outra poltrona, está Amândio Pereira, da Boca do Lobo, mas é uma excepção encontrá-lo sentado. Amândio Pereira define melhor "proactivo" do que o dicionário. Já tinha assegurado de que quando a festa terminasse, havia um jantar para que estas e outras conversas prosseguissem.
Ouvindo várias opiniões: da Pedrita, da Mood, entre outros - Amândio tem boas hipóteses de, durante o jantar, angariar apoio para a sua ideia de criar uma plataforma de Internet para partilharem recursos.
Que impacto teria um designer português em exposição no Selfridges? Provavelmente, muito pouco. Vários designers, várias peças, pode fazer diferença.
Uma "comunidade em crescimento" foi a descrição de Max Fraser - que se apresenta como o "middle man" entre designers, lojas inglesas e ICEP -, frisando o "em crescimento".
Se há algo desafiador no trabalho de comissário de Fraser é o facto de estar tudo por fazer. "É um quadro em branco. Podemos pintar o que quisermos", explica.
Devagarinho, vai-se pintando. Usando uma distinção de Rita Arnóbio, da Águas Furtadas, vai-se pintando uma imagem não "de" design português, mas "do" design português, porque é o particular que mais contém em si a possibilidade de ser universal. Seja qual for essa identidade, será sempre uma peça a várias mãos.